Maio
de 68 de Paris foi uma explosão inesperada. A Primavera de Praga, o coroamento
de um longo processo enraizado no choque do Terror stalinista dos primeiros
anos depois de 1948.
Maio
de Paris, sustentado a princípio por iniciativa dos jovens, era impregnado de
lirismo revolucionário. A Primavera de Praga era inspirada pelo ceticismo
pós-revolucionário dos adultos.
Maio
de Paris era uma contestação alegre da cultura europeia vista como
desinteressante, oficial, esclerosada. A Primavera
de Praga era a exaltação dessa mesma cultura abafada durante muito tempo sob a
idiotice ideológica, a defesa tanto do cristianismo quanto da incredulidade
libertina e, claro, da arte moderna (explico bem: moderna, não pós-moderna).
Maio
de Paris propagava seu internacionalismo. A Primavera de Praga queria devolver
a uma pequena nação sua originalidade e sua independência.
Por
um “acaso maravilhoso”, essas duas Primaveras, assincrônicas, cada uma
originada num tempo histórico diferente, se encontraram sobre a “mesa de
dissecação” do mesmo ano.
(Milan
Kundera – Um encontro)
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