segunda-feira, 7 de maio de 2018

Maio de 68 de Paris foi uma explosão inesperada. A Primavera de Praga, o coroamento de um longo processo enraizado no choque do Terror stalinista dos primeiros anos depois de 1948.

Maio de Paris, sustentado a princípio por iniciativa dos jovens, era impregnado de lirismo revolucionário. A Primavera de Praga era inspirada pelo ceticismo pós-revolucionário dos adultos.

Maio de Paris era uma contestação alegre da cultura europeia vista como desinteressante, oficial, esclerosada. A Primavera de Praga era a exaltação dessa mesma cultura abafada durante muito tempo sob a idiotice ideológica, a defesa tanto do cristianismo quanto da incredulidade libertina e, claro, da arte moderna (explico bem: moderna, não pós-moderna).

Maio de Paris propagava seu internacionalismo. A Primavera de Praga queria devolver a uma pequena nação sua originalidade e sua independência.

Por um “acaso maravilhoso”, essas duas Primaveras, assincrônicas, cada uma originada num tempo histórico diferente, se encontraram sobre a “mesa de dissecação” do mesmo ano.

(Milan Kundera – Um encontro)

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