quinta-feira, 15 de junho de 2023

Depois de fechar o livro, o leitor ideal sente que, se não tivesse lido, o mundo seria mais pobre.

 

O leitor ideal possui um perverso senso de humor.

 

O leitor ideal jamais conta quantos livros tem.

 

O leitor ideal é generoso e ávido ao mesmo tempo.

 

O leitor ideal lê toda literatura como se fosse anônima.

 

O leitor ideal gosta de usar o dicionário.

 

O leitor ideal julga o livro pela capa.

 

Quando lê um livro de séculos atrás, o leitor ideal se sente imortal.

 

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O leitor ideal não tem uma nacionalidade precisa.

 

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Pinochet, que proibiu D. Quixote por pensar que incitava a desobediência civil, foi o leitor ideal desse livro.

 

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O leitor ideal não se preocupa com anacronismos, a verdade documentada, a exatidão histórica, a precisão topográfica. O leitor ideal não é um arqueólogo.

 

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O leitor ideal é alguém com quem o autor gostaria de varar a noite bebendo vinho.

 

Um leitor ideal não deveria ser confundido com um leitor virtual.

 

Um escritor nunca é seu próprio leitor ideal.

 

A literatura não depende de leitores ideais, mas apenas de leitores suficientemente bons.

 

(Alberto Manguel – Notas para uma definição do leitor ideal) 


segunda-feira, 5 de junho de 2023

 

D. Quixote de La Mancha é um livro subversivo. Contra a autoridade arbitrária dos nobres e dos ricos, contra o egoísmo e a infidelidade das pessoas do povo, contra o arrogante equívoco dos letrados e universitários. D. Quixote insiste em que o principal dever do leitor é agir no mundo com honestidade moral e intelectual, sem se deixar convencer por slogans tentadores e apelos emotivos, nem acreditar em notícias aparentemente verdadeiras sem verificá-las. Quem sabe esse seu modesto princípio possa nos tornar, a nós, leitores nesta sociedade caótica em que vivemos, mais tolerantes e menos infelizes.

 

(Alberto Manguel – Notas para uma definição do leitor ideal)