terça-feira, 15 de maio de 2018

A filosofia de Hegel representa uma última trincheira, um esforço de última hora para redimir o mundo pela Razão, contrapondo severamente sua face diante de todo mero intuicionismo; mas o que em Hegel é o princípio, Ideia ou Razão, ao exibir seu majestoso progresso ao longo da história, tornou-se em Schopenhauer a Vontade cega, voraz — a ânsia implacável que está no âmago de todos os fenômenos. O intelecto para Schopenhauer é apenas um servo bruto e vacilante dessa força implacável, falseado por ela, uma faculdade inerentemente deformadora que acredita pateticamente apresentar as coisas como realmente são. O que para Marx e Engels é uma condição social específica, na qual as idéias obscurecem a verdadeira natureza das coisas, é generalizada em Schopenhauer para a estrutura da mente como tal. E, de um ponto de vista marxista, nada poderia ser mais ideológico que essa visão de que todo pensamento é ideológico. É como se Schopenhauer em O mundo como vontade e representação (1819) fizesse exatamente o que descreve fazer o intelecto: oferece como verdade objetiva a respeito da realidade o que é a perspectiva partidária de uma sociedade cada vez mais governada pelo interesse e pelo apetite. A cobiça, a maldade e a agressividade do mercado burguês são agora simplesmente como a humanidade é, mistificada por uma Vontade metafísica.


(Terry Eagleton - Ideologia)

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