A
filosofia de Hegel representa uma última trincheira, um esforço de última hora
para redimir o mundo pela Razão, contrapondo severamente sua face diante de
todo mero intuicionismo; mas o que em Hegel é o princípio, Ideia ou Razão, ao
exibir seu majestoso progresso ao longo da história, tornou-se em Schopenhauer
a Vontade cega, voraz — a ânsia implacável que está no âmago de todos os
fenômenos. O intelecto para Schopenhauer é apenas um servo bruto e vacilante
dessa força implacável, falseado por ela, uma faculdade inerentemente
deformadora que acredita pateticamente apresentar as coisas como realmente são.
O que para Marx e Engels é uma condição social específica, na qual as idéias
obscurecem a verdadeira natureza das coisas, é generalizada em Schopenhauer para
a estrutura da mente como tal. E, de um ponto de vista marxista, nada poderia
ser mais ideológico que essa visão de que todo pensamento é ideológico. É como
se Schopenhauer em O mundo como vontade e representação (1819) fizesse exatamente o que descreve fazer o intelecto: oferece como
verdade objetiva a respeito da realidade o que é a perspectiva partidária de
uma sociedade cada vez mais governada pelo interesse e pelo apetite. A cobiça,
a maldade e a agressividade do mercado burguês são agora simplesmente como a
humanidade é, mistificada por uma Vontade metafísica.
(Terry Eagleton - Ideologia)
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