O
caso de Lindalva é especial. Descasou cedo de um fazendeiro de Marajó e aos 21
anos já estava no Rio com as pernas e cintura que Deus lhe dera de benções.
Dizem que mulher paraense tem perna fina e bunda seca. Injustiça do vulgo. Aí
está Lindalva até hoje, cada dia mais bem feita, ainda que perto dos quarenta.
Passou dez anos no Rio (deixou com a mãe a filha pequenina) fazendo michê com
clientes de hotel cinco estrelas. Até que arranjou um namorado, também
fazendeiro, só que paulista. Já estava de malas e corações prontos para
acompanhar o ricaço quando descobriu que ele era casado, com mansão na Avenida
Paulista. Lindalva não conversou, nem se despediu, mais que tudo não chorou:
tomou avião para Belém do Pará. Foi ver a filha, já taludinha, no internato do
colégio de freiras, passou um fim de semana com ela no Mosqueiro, reviu duas ou
três antigas amizades de escola e de procissão de festa do Círio de Nazaré. Uma
delas mudou o caminho de Lindalva. Estava chegando do garimpo de Itaituba, para
onde fora a fim de fazer a vida, vivia então como a amiga estava vendo, tudo do
bom e do melhor, e com dinheiro no over. Lindalva, dona de duas sílabas
sinceras, e que já tinha a vocação profissional, não fez outra coisa que mudar
de praça. Uma semana depois já estava de casa alugada na capital do garimpo do
Tapajós. Vistosa, cadeiruda, olhar de onça fingida, Lindalva virou a cabeça dos
pobres e começou a esvaziar os bolsos dos endinheirados. Só dava pra piloto ou
pra dono de pista, de vez em quando para um garimpeiro que bamburrava. Lindalva
ficou menos de um ano, um dia sem mais nem menos desapareceu: é verdade que entrou
no avião rindo feliz e dando pra todo mundo. Ganhou seu bom dinheiro, suado,
graças aos seus naturais talentos mas também à sua engenhosa imaginação.
Asseguro que o fato é verídico, quem me contou – e contou rindo – passou pelas
artes dela.
Lindalva
fazia tudo o que sabia para fazer o parceiro feliz. Assunto resolvido, ela já
no robe de seda, o homem pedia mais. Ela não dizia que não, mas condicionava:
só se for como eu gosto. Lindalva gostava era assim: endurecia o pau do cabra,
até deixá-lo tinindo. Depois lambuzava todinho, devagar, com manteiga. Agora,
dizia ela, polvilha ele com ouro, até ficar como se fosse um pau feito de ouro
de verdade. Naquela altura dos conformes o homem não se fazia de rogado. Vem
depressa, pedia Lindalva, como se estivesse faminta de macho e não de metal.
Quando o parceiro já não dava mais, a moça chegava com uma bacia esmaltada e um
lenço de seda, sabonete perfumado e lavava, cuidadosa, delicadamente, o pau do
camarada, no qual não ficava o mais ínfimo pozinho.
Quando
se via só, Lindalva partia para a segunda parte da extração do ouro: o que lhe
ficara dentro da buceta. De cócoras sobre a mesma bacia, ela injetava um
abundante jorro de água na vagina com a ajuda de uma pera de borracha adequada
a esse tipo de operação.
Lindalva
acabou cheia de grana com a sua invenção do cacete dourado.
(Thiago
de Mello – Amazônia: a menina dos olhos)
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