Andar
é mapear com os pés. Ajuda-nos a unir peças de uma cidade, conectando bairros
que, de outro modo, ficariam como entidades avulsas, planetas diferentes
ligados entre si, sustentando-se embora distantes. Gosto de ver como, na
verdade, se mesclam, gosto de perceber os limites entre eles. Andar ajuda a me
sentir em casa. Há um leve prazer em ver como vim a conhecer bem a cidade com
minhas andanças a pé, atravessando bairros diferentes da cidade, alguns que eu
conhecia bastante bem, outros que posso ter deixado de ver por algum tempo,
como se retomasse contanto com alguém que conheci certa vez numa festa.
Às
vezes ando porque estou com a cabeça cheia de coisas, e andar me ajuda a
encaminhá-las. Solvitur ambulando, como dizem em latim, solucionar
andando.
[...]
Ando
porque, de certa forma, é como ler. Ficamos inteirados dessas vidas e conversas
que não têm nada a ver conosco, mas que podemos entreouvir. Às vezes o ambiente
está superlotado; às vezes as vozes são altas demais. Mas há sempre companhia.
A gente não está só. A gente anda na cidade com os vivos e os mortos, lado a
lado.
(Lauren
Elkin – Flâneuse)
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