terça-feira, 21 de janeiro de 2020


SACRÍLEGAS

No ano de 1901, Elisa Sánchez e Marcela Gracia contraíram matrimônio na igreja de São Jorge, na cidade galega de A Corunha.

Elisa e Marcela se amavam às escondidas. Para normalizar a situação, com boda, sacerdote, certidão e foto, foi preciso inventar um marido: Elisa se transformou em Mario, vestiu roupa de cavalheiro, cortou os cabelos e falou com outra voz.

Depois, quando ficaram sabendo, os jornais da Espanha inteira puseram a boca no mundo diante daquele escândalo asquerosíssimo, essa imoralidade desavergonhada, e aproveitaram aquela tão lamentável ocasião para vender como nunca , enquanto a Igreja, enganada em sua boa-fé, denunciava para a polícia o sacrilégio cometido.

E desatou-se a caçada.

Elisa e Marcela fugiram para Portugal.

Caíram presas na cidade do Porto.

Quando escaparam da cadeia, trocaram de nomes e foram mar afora.

Na cidade de Buenos Aires perdeu-se a pista das fugitivas.

(Eduardo Galeano – Mulheres)

Nenhum comentário:

Postar um comentário