O PROBLEMA
Depois
de construir a fama de recluso e avesso a exposições, por volta dos 70 Mario
Quintana se deixou descobrir explicitamente. Virou atração turística, como avalia
o jornalista Ivo Stigger. “Sou a falta de assunto predileta das professoras de
Português da Grande Porto Alegre”, divertia-se. Quando não podia fugir,
desaparecendo nos corredores do prédio da Caldas Júnior ou enfiando-se num
cinema, aceitava o sacrifício estoicamente.
Naquela
tarde, um bando de normalistas do Instituto de Educação (ainda usavam o
uniforme tradicional, saia plissada azul-marinho, blusa listrada em vermelho e
branco, gravatinha) invadiu a redação e foi direto à mesa do poeta, tema involuntário
de um trabalho em grupo.
Apegando-se
ao fato de que ele sempre vivera sozinho, uma magrelinha loira faz a primeira
pergunta:
–
O senhor poderia falar sobre o problema da solidão?
Ele,
dirigindo-se ao grupo:
– O maior problema da solidão, minhas
filhas, é preservá-la.
(Juarez
Fonseca – Ora bolas)
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