sábado, 7 de dezembro de 2019


O PROBLEMA

Depois de construir a fama de recluso e avesso a exposições, por volta dos 70 Mario Quintana se deixou descobrir explicitamente. Virou atração turística, como avalia o jornalista Ivo Stigger. “Sou a falta de assunto predileta das professoras de Português da Grande Porto Alegre”, divertia-se. Quando não podia fugir, desaparecendo nos corredores do prédio da Caldas Júnior ou enfiando-se num cinema, aceitava o sacrifício estoicamente.

Naquela tarde, um bando de normalistas do Instituto de Educação (ainda usavam o uniforme tradicional, saia plissada azul-marinho, blusa listrada em vermelho e branco, gravatinha) invadiu a redação e foi direto à mesa do poeta, tema involuntário de um trabalho em grupo.

Apegando-se ao fato de que ele sempre vivera sozinho, uma magrelinha loira faz a primeira pergunta:

– O senhor poderia falar sobre o problema da solidão?

Ele, dirigindo-se ao grupo:

– O maior problema da solidão, minhas filhas, é preservá-la.

(Juarez Fonseca – Ora bolas)

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