A clareza torna mais fácil o trabalho do
leitor, e mais difícil o do autor (pela impossibilidade de iludir). É preciso
buscá-la por pelo menos duas razões, portanto: por polidez em relação ao
leitor; por exigência em relação a si mesmo. Um texto obscuro, nove em cada dez
vezes, é uma grosseria e uma complacência. Quantos textos contemporâneos estão
nesse caso? E, para uma obscuridade um pouco profunda (Mallarmé? Char?),
quantas falácias?
É, enfim uma questão de coragem. A
obscuridade florida de velas aqui e ali, lisonjeia: dá ao olhar uma poesia que
ele não tem, à pele uma juventude que ela já não tem. A luz do dia, por sua
vez, não perdoa.
Por causa disso, há velhas vaidosas que
só saem de casa ao crepúsculo.
(André Comte-Sponville – Do corpo)
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