segunda-feira, 16 de dezembro de 2019


A clareza torna mais fácil o trabalho do leitor, e mais difícil o do autor (pela impossibilidade de iludir). É preciso buscá-la por pelo menos duas razões, portanto: por polidez em relação ao leitor; por exigência em relação a si mesmo. Um texto obscuro, nove em cada dez vezes, é uma grosseria e uma complacência. Quantos textos contemporâneos estão nesse caso? E, para uma obscuridade um pouco profunda (Mallarmé? Char?), quantas falácias?

É, enfim uma questão de coragem. A obscuridade florida de velas aqui e ali, lisonjeia: dá ao olhar uma poesia que ele não tem, à pele uma juventude que ela já não tem. A luz do dia, por sua vez, não perdoa.

Por causa disso, há velhas vaidosas que só saem de casa ao crepúsculo.

(André Comte-Sponville – Do corpo)

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