Lembrou-se então das heroínas dos livros que lera, e toda aquela legião lírica de mulheres adúlteras começou a cantar-lhe na memória, com vozes de irmãs que a seduziam. Tornava-se ela mesma agora parte autêntica dessas imaginações e realizava o longo devaneio da sua juventude, enquadrando-se naquele tipo de mulher apaixonada que tanto invejara. Além disso, Emma sentia uma satisfação de vingança. Já sofrera bastante! Mas agora triunfava, e o amor, por tanto tempo reprimido, jorrava livremente em alegre efervescência. Saboreava-o sem remorsos, sem inquietude, sem desassossego. O dia seguinte passou-se numa nova doçura. Fizeram juramentos um ao outro. Rodolphe interrompia-a com os seus beijos; ela pedia-lhe, fixando-lhe as pálpebras semicerradas, que a chamasse mais uma vez pelo nome e lhe repetisse que a amava.
(Gustave Flaubert –
Madame Bovary)
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