domingo, 22 de novembro de 2020

1950, RIO DE JANEIO: OBDULIO


A coisa está feia, mas Obdulio estufa o peito, pisa forte e mete a perna. O capitão do time uruguaio, negro mandão e fornido, não se encolhe. Obdulio cresce quando a imensa multidão ruge mais, multidão inimiga, nas arquibancadas.


Surpresa e luto no estádio do Maracanã: o Brasil, goleador, demolidor, favorito de ponta a ponta, perde a última partida no último minuto. O Uruguai, jogando com alma e vida, ganha o campeonato mundial de futebol.


Ao anoitecer, Obdulio Varela foge do hotel, assediado por jornalistas, torcedores e curiosos. Obdulio prefere celebrar na solidão. E vai beber por aí, em qualquer botequim; mas em todas as partes encontra brasileiros chorando.


- Culpa daquele Obdulio – dizem, bandos em lágrimas, os que há algumas horas vociferavem no estádio. – O Obdulio ganhou o jogo.


E Obdulio sente um estupor pela raiva que teve deles, agora que os vê um a um. A vitória começa a pesar em suas costas. Ele arruinou a festa dessa gente boa, e sente vontade de pedir perdão por ter cometido a tremenda maldade de ganhar. Por isso, continua caminhando pelas ruas do Rio de Janeiro, de bar em bar. E assim amanhece, bebendo, abraçando os vencidos.


(Eduardo Galeano – Amar amares)

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