sábado, 26 de setembro de 2020

O AMOR

 

Na selva amazônica, a primeira mulher e o primeiro homem se olharam com curiosidade. Era estranho o que tinham entre as pernas.

 

- Te cortaram? Perguntou o homem.

 

- Não – disse ela – sempre foi assim.

 

Ele a examinou de perto. Coçou a cabeça. Havia ali uma chaga aberta. Disse:

Não comas mandioca, nem bananas, nem nenhuma fruta que se rasgue ao amadurecer. Eu te curarei. Deita-te na rede e descansa.

 

Ela obedeceu. Com paciência tomou a mistura de ervas e deixou que lhe aplicasse as pomadas e unguentos. Tinha que apertar os dentes para não rir quando ele dizia:

 

- Não te preocupes.

 

Ela gostava da brincadeira, embora começasse a se cansar de viver de jejum e estendida na rede. A memória das frutas enchia sua boca de água.

Uma tarde, o homem chegou correndo através da floresta. Dava saltos de euforia e gritava:

 

- Encontrei! Encontrei!

 

Acabava de ver um macaco curando uma macaca na copa de uma árvore.

 

- É assim – disse o homem, aproximando-se da mulher.

 

Quando terminou o longo abraço, um aroma espesso, de flores e frutas, invadiu o ar. Dos corpos, deitados juntos, se desprendiam vapores e fulgores jamais vistos, e era tamanha sua beleza que morriam de vergonha os sóis e os deuses.

 

(Eduardo Galeano – Amar a mares)

 


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