domingo, 12 de novembro de 2023

 

Comprade Justino e sua mulher, a Zefa, já velhinhos... sentados à porta de seu ranchinho pobre, relembrando o passado.

 

ELE – Pois é, Zefa. Tava me alembrando quando a gente casô... Eu tinha muito dinheiro dos negócio... Tinha mais de mir cabeça de gado... aí veio aquela peste. Ocê lembra? Morreu todo o gado e eu fiquei numa pindaíba de dá pena... e ocê sempre ali junto comigo. Se alembra, Zefa?

 

ELA – Éééééé... craro que se alembro, uai.

 

ELE – Depois a gente começou a prantá roça, eu fui arribando de novo... cheguei a ter muita terra, né?

 

ELA – Éééé...

 

ELE – Mais despois veio a praga dos gafanhoto... ocê alembra? Perdemos tudo... fiquemo sem roça, e ocê aí... firme comigo... sempre junto. E quando eu fiquei doente, intão? Febre amarela. Icterícia... bronquite braba... fui internado, dois mês de hospitar... e ocê ali firme... sempre junto comigo...

 

ELA – É verdade...

 

ELE (num repente) – Ó Zéfa! Pensando bem... ocê dá um azar desgramado...

 

(Rolando Boldrin – Um casal saudoso)

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