segunda-feira, 9 de setembro de 2024

 

Na minha vida de poeta os meus contatos têm sido sempre com gente nova, o que talvez explique que venha envelhecendo devagar. Não é que eu tenha, em tempo algum, procurado os novos: jamais procurei ninguém, o que de minha parte era timidez, não orgulho. Mas sempre, desde Afonso Lopes de Almeida e Ribeiro Couto, fui procurado por gente mais moça que eu. Estreei com uma geração que não era a minha, e nas gerações seguintes vim encontrando grandes amigos em suas maiores figuras. Agora está aí roncando bravura a chamada geração de 45: há nela uma meia dúzia de talentos que não me toleram nem como poeta nem como homem. Dou-lhes razão, porque, como o dr. Strauss do meu confrade Austregésilo, eu “positivamente não gosto de mim”. Mas eles acabarão gostando: sei, por experiência, que no Brasil todo sujeito inteligente acaba gostando de mim.

 

(Manuel Bandeira – Itinerário de Pasárgada)